Cinturão Vermelho
Ele poderia ser classificado como o “filme de ação com conteúdo”, mas é o contrário, “filme de conteúdo com ação mínima” para ser mais exato. Seria verborrágico e intragável se o homem por trás das câmeras e responsável pelo roteiro não fosse o dramaturgo David Mamet, um dos poucos que ainda desfruta do dom da oralidade e cria personagens atrativos, firmes e bem delineados que se cruzam de forma hermética e necessária, aos poucos nota-se que um precisa do outro, e o elenco está á vontade para abrilhantar ainda mais o texto que ele escreve.

Cinturão Vermelho busca referências em outras épocas do cinema com o protagonista Mike Terry, que ostenta a postura do herói de filme antigo em guerra com a consciência, alguém de caráter extraordinário defendido brilhantemente por Chiwetel Ejiofor. Mike é um homem puro, não quer acreditar que o mundo gira em torno de dinheiro e ambição. Ele honra seus princípios e ensinamentos milenares do jiu-jitsu. Alguns dizem que ele é um viciado em pobreza, um fracassado, mas Mike tenta apenas manter-se ileso diante do surgimento de novas pessoas responsáveis por uma rede de intrigas e ambição que cresce ao seu redor iniciada com um tiro acidental disparado contra o vidro de sua academia.

Nada na vida é por acaso, principalmente nos roteiros de David Mamet. Se você já assistiu Jogo de Ilusões, A Trapaça, As Coisas Mudam ou O Assalto sentirá um mau presságio se formando quando a sorte começar a sorrir. Mamet sabe como encardir as coisas e demora um pouco para mostrar ao que veio nesse filme e por mais que enfie uma de suas paixões, o jiu-jitsu, por tudo que é canto, ele ainda é um excelente articulador de situações, por mais curtas que elas pareçam.

Rodrigo Santoro é o rascunho de bandido. Alice Braga é a esposa suspeita do herói. Emily Mortimer é a advogada atormentada. Emily e Alice representam de forma legal outro clichê de filme antigo: a femme-fatale e a ajudante honesta.

Tim Allen nos faz esquecer por alguns segundos que é o ator oficial das comédias da Disney.
Os bons amigos de Mamet estão todos em cena: Ricky Jay, um dos seus atores-fetiche, Joe Mantegna e sua esposa, Rebecca Pidgeon. O lutador Randy Couture faz dobradinha com o ator Vincent Guastaferro e aparece continuamente, mais do que o elenco oficial, comentando a maioria das lutas.

Cinturão Vermelho está longe de ser um filme ruim, mas também não é um Mamet tradicional, do tipo que você fica ansioso á cada minuto. Desde Spartan, a coisa já desandou e novamente espera-se demais.

Quando a coisa realmente começa, a primeira trapaça aparece e a tensão vai se formando, queremos algo bombástico e arrasador no final. E então, a ação adormecida resolve falar mais alto e Mamet resolve tudo com uma troca de socos e empurrões entre o mocinho e o representante dos vilões. Só isso.
 

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